Dia da Consciência Negra: a evidência de que o racismo tem cor e endereço
“Valeu Zumbi!
O grito forte dos Palmares
Que correu terras, céus e mares
Influenciando a abolição...”
O samba enredo Kizomba, a Festa da Raça, apresentado pela Escola de Samba Unidos de Vila Isabel em 1988 resume de forma esplendorosa a força de uma cultura que ainda hoje tem um “bom jogo de cintura para fazer valer seus ideais”.

Zumbi é respeitado e não é atoa. Símbolo máximo nacional que representa a resistência e luta contra a escravidão, foi um dos líderes do Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga - o qual resistiu por mais de um século, acolhendo milhares de escravos fugidos, índios e brancos. O Quilombo dos Palmares foi o maior quilombo da época colonial, possuía uma enorme capacidade de organização, o que representava extremo perigo à mentalidade escravocrata. Zumbi foi seu último líder.
O Dia da Consciência Negra é comemorado em 20 de novembro, data esta o qual Zumbi foi morto (1695). Fruto do movimento negro estima-se que em mais de setecentas cidades brasileiras é considerado feriado municipal, sendo Francisco Morato uma delas. O intuito do dia 20 de novembro é trazer a reflexão sobre o racismo e seus reflexos, colocando em primeiro plano o resgate da cultura negra no Brasil e, sobretudo, solidificar ações afirmativas que insere o afrodescendente enquanto protagonista na sociedade.
No Brasil “ninguém” é racista, já que foi socado na construção da identidade do brasileiro o discurso da miscigenação fraternal entre brancos, índios e negros. Entretanto, olhando para as estatísticas logo se entende que “ninguém” só pode ser “alguém”, afinal, o extermínio da juventude, a pobreza, o alto índice de analfabetismo e os direitos negados a moradia, fatores vigentes e fundamentais para a manutenção da desigualdade social, faz o discurso deleitar-se no paraíso, enquanto na vida real o alvo tem cor e endereço.
Se autodeclarar negro ainda gera desconforto e alvoroço, que dirá pensar em políticas públicas direcionadas a população negra. Sendo assim, o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Francisco Morato não é grande apenas em seu nome, enquanto órgão tem a responsabilidade de enfrentar e combater o racismo e qualquer tipo de intolerância. Não deve medir esforços junto ao poder público e a população moratense na defensa dos direitos e sua total inserção na vida sócio, econômica, política e cultural. Criado pela Lei Municipal nº 2.163 de 23 de novembro de 2005, cumpre o papel de “botar o dedo na ferida” por meio da pesquisa, do levantamento de dados, de discussões e questionamentos, quando preciso a força da lei.
Além de exercer a missão de traçar os principais problemas que atingem a população afrodescendente, especificamente, recorrendo a soluções e ações preventivas, trabalha em torno da desconstrução dos valores arraigados na cultura, o qual mantém o preconceito e a intolerância a cerca de uma crença, modo de vestir, falar e todo um oceano de problemas a ser combatidos. E não precisa ir muito longe para o entendimento. Sem cutucar a onça com vara curta, quantos discursos por aí pregam que as religiões de matriz africana (e não se limita apenas a Umbanda e Candomblé) são práticas demoníacas e devem ser combatidas com todas as forças?! Quantos cachos foram abduzidos pelo formol, porque a moda defende o cabelo liso, de corte hollywoodiano?! Quantas mulheres não ficaram agonizando de dor na hora do parto porque a mulher negra é mais forte e aguenta?! Ou quantas vezes esta mesma mulher chora quando um filho é preso ou é morto na mão do crime, para não dizer, com o aval do próprio Estado?!
É, camarada! O Dia da Consciência Negra mexe com a sociedade, isto é fato. Causam polêmicas, geram dúvidas, revolta, protestos, faz perguntas. Muitos se encontram a um passo do entendimento, mas e enquanto a consciência coletiva não chega? A luta nunca abaixou a guarda, mesmo sabendo que anda oculta ou mal contada nos livros de História. Sempre a caminho de um mundo plural e igualitário, vozes ecoam: valeu Zumbi!
"Jorges Velhos Virão com a mesma visão!
Vários na prontidão, donde vem?
Quantos são?
Continuarão as Revoluções Pernambucanas, Canudos,
Contestado, Conjuração Baiana!
Mas sem drama!
Cada um com seu estilo e perfil!
Resistência é o que nóis é!
Palmares é descendência...
A semelhança com o lugar não é mera coincidência"
Trecho da Música “Jorge Velho” do Grupo Gradi Morato!
Faça parte desta Consciência
A campanha Faça parte desta Consciência (disponível nas redes sociais e no blog http://comunidadenegrafm.blogspot.com.br/p/c.html) está sendo promovida pelo Conselho da Comunidade Negra e propõe instigar a reflexão sobre a atuação de cada cidadão na história do município de Fco. Morato. Mostrar o afrodescendente enquanto protagonista nos processos sociais, educacionais, artísticos, etc., instiga a população a participar das ações a serem realizadas na 5ª Virada Municipal da Consciência Negra, no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, a ser realizada das 10h às 20h no calçadão, em frente a estação de trem.
PUBLICADO EM INFORMATIVO OXÊ! | 2013