Quixabeira
Um texto para se levar e desconstruir

Foto: Tamires Santana
"Amor de longe benzinho, é favor não me querer benzinho Dinheiro eu não tenho benzinho, mas carinho eu sei fazer até demais..."
Neste registro, ocorrido durante o evento “Museu Aberto Arte Urbana Caipira” deste domingo (17/03) em Pindamonhangaba, município da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, no estado de São Paulo, para o lançamento do “Tinta Loka Street Book” (de autoria de Tamires Santana & Bonga Mac), (ufaaa!) lembrei de "Quixabeira", canção composta pelo genial Carlinhos Brown (ouça a versão com a banda Cheiro de Amor para sair dançando).
Depois fiquei pensando comigo, ‘mas o que é que tem a ver uma coisa com a outra?’ E para arte lá tem que ter explicação? Dê logo minha licença poética que eu quero é passar! Mas deve ser porque ela é exageradamente não retilínea para as nossas gavetas mentais, coisa que somente a expressão artística, materialização da criatividade humana, dotada de inúmeras formas, sabe “fazer, até demais”.
“Quixabeira” é a fusão das músicas “Samba Santo Amarense: Alô meu Santo Amaro”, “Vinha de viagem” e “Amor de longe”, canções presentes no álbum “Da quixabeira pro berço do Rio”, de 1992, álbum resultado de um diálogo entre músicos profissionais do Rio de Janeiro e pequenos agricultores de cinco municípios do sertão baiano. Ou seja, é uma produção coletiva, anônima e que transmite às novas gerações, através da experiência comunitária, cantos de agricultores de comunidades rurais do semiárido baiano.
Já aqui, o cenário é Araretama, a qual reúne a cultura urbano-rural-periférica e, utilizando-se da arte urbana como linguagem, propõe, a si mesma, o reconhecimento por suas práticas imateriais e riquezas culturais, que vai muito além do turismo comercial centralizado.
Pronto! Aqui damos início à crônica com o cotidiano. Na mescla de pensamentos não lineares, tal qual propõe a composição, pairavam diante do observar, personagens e paisagens que se conectavam entre olhares, conversas, música e, principalmente, a arte urbana.
Sendo esta última um instrumento que se debruça na coletividade, quando falamos de transformação da paisagem urbanística, é anônima porque nem sempre há um conhecimento do transeunte sobre o(a) criador(a) da arte e, sem sombra de dúvidas, é uma grande oportunidade em transmitir à diferentes gerações a mensagem desejada oubsimplesmente marcar presença.
“Mas eu fiquei sozinho, seu teu carinho, sem teu amor”. A partir da lógica composicional é possível ampliar a experiência e observar outra coisa que me chamou a atenção: a reciprocidade. O acolhimento entre os seus e os visitantes, sobretudo (a parte que me interessa) o gênero feminino, o qual existiu cem por cento, na ocasião, comprimentos apertando a mão, olhando nos olhos, com respeito. Pasmem, estamos no século XXI e sim, isto ainda não ocorre com frequência por estas bandas.
Não é “Samba Santamarense”, como indica a canção, mas, em uma vivência atemporal, inspirada em uma canção sinuosa, é pra gente conhecer e a gente aprender.
--- Tamires Santana jornalista e artista multimídia
Texto publicado em Bonga Produções